domingo, 4 de janeiro de 2009

Egoiste



Para a Paulinne

Lá fora a colina, o rio e os telhados. Cá dentro ela deixa-se ir sem destino nos carris que a prendem sentada num eléctrico vazio. Na próxima paragem um rapaz entra e senta-se à sua frente. O ar pesa por entre aqueles olhares que se cruzam. Um sorriso que se espelha nas sobrancelhas. O rapaz perdeu o emprego, não come desde manhã e esquece-se de si, ali. Ela quer que ele olhe de novo, doce, como se a pudesse amar. Ela olha-o e ele vê-a reflectida no vidro. Cada sarda brilha com os movimentos do eléctrico. Ela tira o chapéu, corada, no calor do eléctrico que se encheu. Ele pisca o olho e lá fora alguém responde - doce princesa de azul – e as sardas agora são uma lágrima que cresceu dentro, ainda antes da paragem em que ele entrou. Porque ela não o esperava e nem ele sabia que ela existia. E agora que ele a conhece, ela sabe que ainda está sozinha presa nos sentados carris do eléctrico que regressa.

Sem comentários: