quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Terre D'Hermes

Durante a noite ele chegou com toda a força que podia para seduzi-la. Voltar a abraça-la, despi-la de tudo o que a cobria, amá-la mais uma vez. Distante, ela agora estava ainda mais perto do toque frio que a desfazia e que lhe dava novas forma. Ao fundo um raio caía e iluminava por instantes este amor que se repetia cada vez que se encontravam. Em cima, as nuvens tapavam-nos numa cama de desejos aguardados. Na violência que geravam, um beijo a cada toque, o frio que deslizava no corpo dela, que não se mexia, para ser seduzido. Ele frio, doce, agressivo nos seus intentos, ela gélida, rígida na sua grandeza. Percorria cada curva, cada saliência deste corpo que via ao longe sem conseguir tocar. Hoje, ela voltava a ser sua, e ele lutava para beija-la no topo uma vez mais, talvez a última nessa noite.
De manhã, os pés calmos dele imprimem-se na areia perdida. Cheio de si, respira o ar que o acalma e entrega-se ao medo de não voltar a amar. Na manhã de Inverno a maresia parece responder à sua súplica de solidão. Mas ele, ainda longe de perceber que a maresia é o suor daquele amor que os violentou, ignora-os.
Na eternidade de um temporal o mar amou a falésia, sem saber se a voltaria a amar, e ao longe sorriem, um para o outro, da ingenuidade dos passos que se imprimem.