segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Chanel Nº5

Depois de estacionar o carro em frente à entrada, saiu sem o fechar e assobiou, porque estava feliz. Do outro lado da mesma entrada ela despertou ao som do assobio. Vestiu os setes véus e deslizou pelas paredes. Viu, à noite, a cidade que a vira adormecer, encantada, sete séculos antes. O pai morto na guerra. A mãe, só, deixou-a adormecida e partiu em busca dos irmãos cativos do reino inimigo. E adormecida ficou sete horas. Acordou e perfumou-se com a essência do primeiro frasco que o erbanário lhe dera. Ninguém a amou. Adormeceu e adormecida ficou sete dias. Acordou e perfumou-se coma segunda essência. Ninguém a amou. Adormeceu e adormecida ficou sete meses. Também ninguém a amou com a terceira essência e adormecida ficou sete anos. E com a quarta adormecida ficou sete séculos. E hoje com a quinta essência partiu em busca do pai morto, da mãe que procurava os irmãos, dos irmãos cativos e de quem a desencantasse.
Entrou no primeiro carro que viu, parado à entrada, mas não estava atrelado e fugiu pelas ruas da cidade que a vira adormecer.
Quando voltou vinha acompanhado e envolta num casaco negro, ela entrou e sentou-se.
Olhou e disse: "Somebody in this car smells like Chanel No. 5. It’s not me, I can’t afford it."

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