sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Insolence

Era uma vez... Foi uma vez, uma única vez em que ela se sentou no sofá daquela biblioteca. Da cigarreira tirou o último cigarro e levou-o aos olhos enquanto o isqueiro iluminava aquele espaço de vida morta. Nunca tinha lido nenhum daqueles livros que agora a abraçavam. Os heróis morriam sem mesmo nascer porque ela era o início de cada página e o seu próprio fim. Na janela, a luz espaçada de um relâmpago que a despertava cansada. O vestido marfim contrastava com o frio que o ar carregava. Os olhos passeiam pela biblioteca e na alegria que a segue os olhos fecham-se em uma pausa consciente. O cigarro espera-a e o lume que não teve tempo de se apagar aguarda-a. A dona da casa, morta por cada rosa que colheu, lá fora, num jardim de pedra, segue-a também com um olhar fixo. Presa no tempo, eterna nos tons que a prendem.
A porta range.
- Não pode fumar aqui.

Sem comentários: